28 de abril de 2011

Conclusão

     Esse blog foi criado para a apresentação de uma Antologia de textos literários da Modernidade (trabalho de Língua Portuguesa).
     Foram apresentados dez textos, entre poemas, poesias, crônicas e trechos de livros de dez autores diferentes.
     Percebemos, pelo modo usado na escrita, que o modernismo foi evoluindo a cada geração (primeira, segunda e terceira).
     A primeira fase (1922 - 1930) tinha como característica principal o nacionalismo e a adequação da linguagem falada na linguagem escrita.
     Já a segunda ( 1930 - 1945) utilizava os versos livres, e aprofundava as relações do 'eu' com o mundo.
     E na terceira fase (1945 - 1960) os poetas buscavam uma poesia mais 'equilibrada e séria', voltando-se os modelos para Parnasianos e Simbolistas.
     Esperamos ter atingido as expectativas da professora.

E.E. Dr. Antenor Soares Gandra | 3ºB
     >> Gabriela 10 – Jéssica 13 – Layla 16 – Luana 19 – Renan 30 <<
Profª Daniele

Rachel de Queiroz - Biografia


     Rachel de Queiroz, nasceu em Fortaleza, no dia 17 de novembro de 1910, e morreu em 04 de novembro de 2003.
     Sua formação escolar parou em 1925, formando-se professora aos 15 anos de idade.
     Em 1935. com a decretação do Estado Novo, seus livros foram queimados em Salvador - BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos. O golpe militar de 1964 teve em Rachel uma colaboradora, que "conspirou" a favor da deposição do presidente João Goulart.
     Rachel de Queiroz chegou aos 90 anos afirmando que não gostava de escrever mas que escrevia para se sustentar. Ela lembra que começou a escrever para jornais aos 19 anos e nunca mais parou, embora considerava pequeno o número de livros que publicou.

Telha de vidro (Rachel de Queiroz)

Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!


>> Rachel de Queiroz, escrevia o que acontecia ou pelo menos, imaginava. Pode-se perceber pelos poemas dela que ela baseava-se em fatos reais, como por exemplo esse poema, em que ela fala da garota que chega na fazenda.
   O poema é escrito com versos livres e não segue a nenhuma regra.

Ferreira Gullar - Biografia

     Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira), nasceu no dia 10 de setembro de 1930, em São Luiz – Maranhão.
     Em 1948 tornou-se locutor da Rádio Timbira e colaborador do "Diário de São Luís", em 1948.
     No dia 1º de abril de 1964, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Com a assinatura do Ato Institucional nº 5, é preso, em companhia de Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
     O ano de 1970 marca sua entrada na clandestinidade, passando a dedicar-se à pintura.
     Informado por amigos, em 1971, do risco que corria se continuasse no Brasil, decide partir para o exílio, morando primeiro em Moscou (Rússia) e depois em Santiago (Chile), Lima (Peru) e Buenos Aires (Argentina). Durante esse período, colaborou com o semanário "O Pasquim", sob o pseudônimo de Frederico Marques.
    
Poeta consagrado, ele também é ensaísta, tradutor, dramaturgo e crítico de arte. Entre suas obras mais importantes estão "Poema sujo" (1976), "Argumentação contra a morte da arte" (1993) e "Muitas vozes" (1999).

Aprendizado (Ferreira Gullar)

Do mesmo modo que te abriste à alegria
           abre-te agora ao sofrimento
           que é fruto dela
           e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
           que da alegria foste
                                    ao fundo
           e te perdeste nela
                                    e te achaste
                                    nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
                                    e em tua carne vaporize
                                    toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.


 >>  Pode-se perceber que esse poema não foi escrito de uma maneira tradicional (alinhado), mas cada verso em uma parte da linha.
   Essa é uma das características dos poemas de Ferreira Gullar, já que ele escreveu vários poemas dessa maneira.

27 de abril de 2011

Jorge Amado - Biografia


     Jorge Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, em Itabuna – BA.
     Em 1931 foi publicado seu primeiro romance, "O país do carnaval", que recebe elogios dos críticos e torna-se um sucesso de público.
     Escreve em "A Manhã", jornal da Aliança Nacional Libertadora, pelo qual cobre a viagem do presidente Getúlio Vargas ao Uruguai e à Argentina. Sofre sua primeira prisão em 1936, por motivos políticos: acusado de participar do levante ocorrido em novembro do ano anterior em Natal — chamado de "Intentona Comunista” — é detido no Rio. Seus livros, considerados subversivos, são queimados em Salvador por determinação da Sexta Região Militar.
     Liberto, em 1938, o escritor é mandado para o Rio. Muda-se para São Paulo, onde reside com Rubem Braga. Retorna ao Rio no ano de 1939. Exerce intensa atividade política, em decorrência das torturas de presos e a desarticulação do Partido Comunista.
     Participa, em janeiro de 1945, na condição de chefe da delegação baiana, do I Congresso de Escritores, em São Paulo. O encontro termina com uma manifestação contra o Estado Novo. Jorge é preso por um breve período juntamente com Caio Prado Jr.
     Foi eleito deputado Federal, mas teve seu mandato cassado, e acabou se exilando voluntariamente em Paris. Sai do Partido Comunista, segundo explica, "porque queria voltar a escrever".
     Faleceu em 06 de agosto de 2001.

Gabriela, cravo e canela (Jorge Amado)

[...]
     “Só Gabriela parecia não sentir a caminhada, seus pés como que deslizando pela picada muitas vezes aberta na hora a golpes de facão, na mata virgem. Como se não existissem as pedras, os tocos, os cipós emaranhados. A poeira dos caminhos da caatinga a cobrira tão por completo que era impossível distinguir seus traços. Nos cabelos já não penetrava o pedaço de pente, tanto pó se acumulara. Parecia uma demente perdida nos caminhos. Mas Clemente sabia como ela era deveras e o sabia em cada partícula de seu ser, na ponta dos dedos e na pele do peito. Quando os dois grupos se encontraram, no começo da viagem, a cor do rosto de Gabriela e de suas pernas era ainda visível e os cabelos rolavam sobre o cangote,  espalhando perfume. Ainda agora, através da sujeira a envolvê-la, ele a enxergava como a vira no primeiro dia, encostada numa árvore, o corpo esguio, o rosto sorridente, mordendo uma goiaba.”
[...]


>> Nesse trecho do livro “Gabriela, Cravo e Canela”, percebemos a diferença entre a linguagem usada antes do modernismo, que era complicada; e a linguagem usada nesse livro não é uma linguagem difícil de se entender.

24 de abril de 2011

Antônio Maria - Biografia


     Antônio Maria Araújo de Morais nasceu no Recife, em 17 de março de 1921, e faleceu na madrugada de 15 de outubro de 1964.
     Seu primeiro emprego, aos 17 anos, foi o de apresentador de programas musicais na Rádio Clube Pernambuco. Ele foi cronista, locutor esportivo, produtor de rádio e compositor de jingles.
     Aracy de Almeida foi uma de suas grandes amigas. Sabia tudo sobre Antônio Maria e, mesmo assim, como dizia brincando, continuava a gostar dele.
     Teve uma infância feliz, conforme descreve em suas crônicas. Mesmo sendo uma pessoa extrovertida e de muitos amigos (e inimigos), Maria, como era chamado por eles, sempre teve a solidão dentro de si.

Conversa de pai e filha (Antonio Maria)

- Pai, eu tenho um namorado.
Pai, que ouve isso da filha mocinha, pela primeira vez, sente uma dor muito grande. Todo sangue lhe sobe à cabeça, e o chão do mundo roda sob seus pés. Ele pensava, até então, que só a filha dos outros tinha namorado. A sua tem, também. Um namorado presunçosamente homem, sem coração e sem ternura. Um rapazola, banal, que dominará sua filha. Que a beijará no cinema e lhe sentirá o corpo, no enleio da dança. Que lhe fará ciúmes de lágrimas e revolta; pior ainda, de submissão, enganando-a com outras mocinhas. Que, quando sentir os seus ciúmes, com toda certeza, lhe dirá o nome feio e, possivelmente, lhe torcerá o braço. E ela chorará, porque o braço lhe doerá. Mas ela o perdoará no mesmo momento ou, quem sabe, não chegará, sequer, a odiá-lo. E lhe dirá, com o braço doendo ainda: "Gosto de você, mais que de tudo, só de você." Mais que de tudo e mais que dele, o pai, que nunca lhe torceu o braço. Só de você é não dele, o pai. E pensará, o pai, que esse porcaria de rapaz fará a filha mocinha beber whisky, e ela, que é mocinha, ficará tonta, com o estômago às voltas. Mas terá que sorrir. E tudo o que conseguir dela será, somente, para contar aos amigos, com quem permuta as galolices sobre suas namoradas. Ah! O pai se toma da imensa vontade de abraçar-se à filha mocinha e pedir-lhe que não seja de ninguém. De abraçá-la e rogar a Deus que os mate, aos dois, assim, abraçados, ali mesmo, antes que torça o bracinho da filha. Como é absurda e egoisticamente irracional amor de pai! Mais que ódio de fera. Ele sabe disso e se sente um coitado. Embora sem evitar que todos esses medos, iras e zelos passem por sua cabeça, tem que saber que sua filha é igual à filha dos outros; e, como a filha dos outros, será beijada na boca. Ele, o pai, beijou a filha dos outros. Disse-lhe, com ciúme, o nome feio. E torceu-lhe o braço, até doer. Nunca pensou que sua namorada fosse filha de ninguém. Ele, o pai, humanamente lamentável, lamentavelmente humano. Ele, o pai, tem, agora, que olhar a filha com o maior de todos os carinhos e sorrir-lhe um sorriso completo de bem-querer, para que ela, em nenhum momento, sinta que está sendo perdoada. Protegida, sim. Amada, muito mais. E, quando ela repetir que tem um namorado, dizer-lhe apenas:
- Queira bem a ele, minha filha.


>> Essa crônica apresenta um dos problemas familiares mais enfrentados na atualidade: o ciúmes do pai em relação a filha quando começa a namorar.
   O autor retrata a sua opinião como pai, triste na verdade, mas apoiando a filha pelo amor que tem por ela, pois é para sua felicidade.

João Cabral de Melo Neto - Biografia

     João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife, no dia 09 de janeiro de 1920. Passou sua infância nos engenhos de açúcar; sendo amante do futebol, foi campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.
     É eleito, em 15 de agosto de 1968, para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Assis Chateaubriand, e tomou posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida.
     João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Anos antes, ao saber que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever.
     Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar.
     Faleceu em 09 de outubro de 1999.

Morte e vida Severina (João Cabral de Melo Neto)

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra. 


>> Este é um trecho do mais conhecido dos trabalhos do poeta, “Morte e vida severina”, o qual apresenta o Severino e fala de problemas do dia-a-dia.
   O poema não tem rimas, e é composto de versos livres.

Cecília Meireles - Biografia


     Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi criada pela sua avó, D. Jacinta Garcia Benevides. Faleceu no Rio de Janeiro em 9 de novembro de 1964.
     Realizou numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou.
     Em 1965,  é agraciada com o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras. O Governo do então Estado da Guanabara denomina
Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro.
     O governo federal, por decreto, instituiu o ano de 2001 como "O Ano da Literatura Brasileira", em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do escritor Silvio Romero e ao centenário de nascimento de Cecília Meireles, Murilo Mendes e José Lins do Rego.

Rua dos rostos perdidos (Cecília Meireles)

Este vento não leva apenas os chapéus,
estas plumas, estas sedas:
este vento leva todos os rostos,
muito mais depressa.

Nossas vozes já estão longe,
e como se pode conversar,
como podem conversar estes passantes
decapitados pelo vento?

Não, não podemos segurar o nosso rosto:
as mãos encontram o ar,
a sucessão das datas,
a sombra das fugas, impalpável.

Quando voltares por aqui,
saberás que teus olhos
não se fundiram em lagrimas, não,
mas em tempo.

De muito longe avisto a nossa passagem
nesta rua, nesta tarde, neste outono,
nesta cidade, neste mundo, neste dia.
(Não leias o nome da rua, - não leias!)

Conta as tuas historias de amor
como quem estivesse gravando,
vagaroso, um fiel diamante.
E tudo fosse eterno e imóvel.



>> A autora se refere a um ser natural, o vento, o que ele faz e o que deixa de fazer.
   Não utiliza rimas e nem regras para compor seu poema.

Carlos Drummond de Andrade - Biografia


     Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira - MG, em 31 de outubro de 1902 e morreu em 17 de agosto de 1987. Fundou com outros escritores A Revista, que foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas.
     Torturado pelo passado e assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
     Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Receita de ano novo (Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

>> Podemos dizer que esse poema é mais uma lição de vida, como se vê na ultima estrofe: “Para ganhar um Ano Novo / que mereça este nome, / você, meu caro, tem de merecê-lo”.
   Não foi escrito com rimas, mas com o que veio na mente do autor em passar essa mensagem.

Manuel Bandeira - Biografia


     Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, e morreu em 13 de outubro de 1968.
     No final de 1904 o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim.
     Bandeira não participou da Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro em São Paulo, no Teatro Municipal. Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho, tomando posse em 30 de novembro.
     A pedido de amigos, apenas para compor a chapa, candidata-se a deputado pelo Partido Socialista Brasileiro, em 1950, sabendo que não tem quaisquer chances de eleger-se. Em 1956, é aposentado compulsoriamente, por motivos da idade, como professor de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de Filosofia.

Enquanto a chuva cai (Manuel Bandeira)

A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.

Torvelinhai, torrentes do ar!

Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.

Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .

Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!

Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!

E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!



>> Ha rimas no poema, a linguagem usada na escrita é a linguagem falada e há expressões que não são conhecidas (usadas no nosso vocabulário).

Mário de Andrade - Biografia


     Mário Raul de Moraes Andrade nasceu em São Paulo, em 09 de outubro de 1893. Ele usou Mário Sobral como seu pseudônimo. Teve seu primeiro contato com a modernidade na Exposição de Anita Malfatti.
     Em 1921 foi apresentado ao público por Oswald de Andrade através do artigo "Meu poeta futurista".
     Participou da Semana de Arte Moderna em São Paulo, de 13 à 18 de fevereiro, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922.
     Mario de Andrade apoiou a Revolução de 30, defendendo o Nacionalismo Musical. E foi também contra o Estado Novo.
     Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo SP em 25 de fevereiro de 1945, em sua casa, por causa de um enfarte do miocárdio.

Poemas da amiga (Mário de Andrade)

A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.

Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.



>> O poema fala sobre a morte do autor, que pede à sua amiga para ser enterrado em sua cidade, que pelo texto podemos definir: São Paulo.
   Nao ha rimas e nem segue regras da Literatura.

Fernando Pessoa - Biografia

     Fernando Antônio Nogueira Pessoa, nasce em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa, Portugal, vindo a falecer em 30 de novembro de 1935, com apenas 47 anos de vida.
     Sua vida e obra foram marcados por ligações com as chamadas ciências ocultas, o que pode ser percebido em muitos de seus poemas.
     Uma biografia de Fernando Pessoa seria na verdade uma coleção de biografias. Uma dele próprio e outras tantas para seus heterônimos. Alberto Caeiro, Álvaro de Campo, Ricardo Reis, Bernardo Soares, entre outros. A genialidade de Pessoa era tamanha que não cabia em um só homem; eram necessários vários homens, várias cabeças para caber tanta criatividade, o transbordamento de idéias que o acometia.
     Fernando Pessoa nunca se casou. Teve por algum tempo um namoro com Ophélia, mas acabou por desistir do namoro para casar-se com a literatura. Embora tenha escrito e publicado dezenas de artigos, ensaios e poemas em seus anos de vida, ele que é um dos maiores poetas da língua portuguesa.

A pálida luz da manhã de Inverno (Fernando Pessoa)

A pálida luz da manhã de inverno,
O cais e a razão
Não dão mais esperança, nem menos esperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.

No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem menos sossego sequer,
Para o meu esperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.


>> Nesse poema podemos perceber que não foi seguida nenhuma regra de escrita e que também não há rimas.

11 de abril de 2011

Como é a Linguagem Literaria da Modernidade?

A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo.
Antigamente a linguagem era mais rebuscada e regrada; hoje em dia, a linguagem está mais livre e "solta".
A linguagem da modernidade tanto na estética quanto na vida social apresenta um anticonvencionalismo temático, e inovação dos conteúdos que encontra correspondência também nesta linguagem.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, o estilo elevado com o estilo vulgar.
Há uma forte aproximação com a fala, isto é, com a oralidade, e geralmente desejam denunciar a realidade como ela é, nua e crua. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite erros gramaticais.